quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A transformação de um aposentado através da atividade física

Só em 2013, Nelson Hazime Sumihara, de 62 anos, também conhecido como Vovô Ativo, visitou mais de 50 praças na cidade de São Paulo, consertando e fazendo manutenção preventiva nos aparelhos da Aca­demia da Terceira Idade, disponibilizados pela Prefeitura. E o mais curioso: voluntariamente. Além de cuidar das máquinas, Nelson as utiliza todos os dias para fazer seus exercícios. Com o celular ele grava tudo e posta em sua página do facebook, onde já deu dicas de exercícios para, em suas contas, mais de 5 mil pessoas.


Esse exemplo de cidadania e qualidade de vida nos le­vou a procurar o “Vovô Ativo Sumihara” para uma entre­vista. O que descobrimos, entretanto, foi uma bonita histó­ria de superação. Nelson trabalhou a vida toda na área de informática, começando sua carreira logo aos 17 anos, em uma grande empresa da área. Em 1995, aos 44 anos, um acidente mudaria sua vida. “Voltando do trabalho, por volta das 22 horas, sofri um acidente de bicicleta em frente à Praça Giordano Bruno, na Av. Prefeito Fábio Prado, e aca­bei batendo a cabeça na guia“, conta Nelson.

O acidente lhe rendeu uma placa de acrílico do lado di­reito da cabeça. Além disso, Nelson começou a sofrer com perda de memória recente, em decorrência da lesão. Atu­ando como terceirizado em um banco, conseguiu ainda tra­balhar por quase 10 anos. “A perda de memória começou a prejudicar o meu serviço de suporte técnico na empresa. Em 2005 eu já tinha completado o tempo necessário para a aposentadoria na lei anterior, então aposentei com 80%. Por causa da multa da nova lei! Como eu não conseguia mais arrumar emprego por causa da memória, eu aceitei os 80% e aposentei assim mesmo”, conta.

Sem trabalhar, Nelson entrou em depressão. Em 2008, recebeu a notícia de sua médica de que estava com diabetes e teve que parar com o futebol de campo no time Master do Club Nippon, um de seus passatem­pos ao lado da pintura de telas. Nessa época Nelson viu seu peso aumentar rapidamente e assim começou sua história com as Academias da Terceira Idade. “Eu engordei muito, estava usando número 46! Então come­cei a fazer musculação na Academia da Terceira Idade na Praça Flavio Xavier de Toledo no Jardim da Saúde, próximo de casa. Em pouco tempo consegui diminuir a taxa de açúcar no meu sangue”, lembra.

Mas ainda era pouco perto da mudança que Nelson ex­perimentaria em sua vida. “Mesmo com os exercícios diá­rios a minha barriga não estava diminuindo. Foi então que me lembrei dos exercícios que eu fazia no judô, no vôlei e no atletismo na época do Colégio Bilac e Clube Pinheiros, e adaptei os exercícios para fazer nos aparelhos da Praça ATI. Bingo! Deu certo! Acabei com a barriga e com a de­pressão. Com os exercícios que eu programei, em 3 meses diminuí a calça de número 46 para 40! A partir deste dia comecei a dar dicas para os usuários da Academia Tercei­ra Idade, primeiro pessoalmente e depois pelo facebook”.

Embora já fosse usuário das ATI há quase um ano, a von­tade de cuidar dos aparelhos só começou por volta de 2009, graças ao exemplo de duas senhoras, a “dona” Ju­randir e a “dona” Natalina. “Dona Jurandir é o meu anjo que apareceu na passagem do ano novo – sempre eu a chamava de Dona Maria. Eu acho que foi no dia 25 de De­zembro de 2009 ou no dia 01 de Janeiro de 2010. De ma­nhã neste dia a encontrei limpando e lavando o cocô que alguém tinha espalhado nos aparelhos de musculação da terceira idade, na praça Frei Jose Maria Lorenzetti. Fui até em casa pegar um álcool gel e a ajudei a terminar de desinfetar a sujeira. A partir deste dia comecei a levar sempre comigo álcool gel para limpar todos os aparelhos das praças que eu frequentava”.

Sobre a “dona” Natalina: “Na semana seguinte estava eu na Praça João Rodrigues atrás da Biblioteca Amadeu Amaral, no Jardim da Saúde. Encontrei a Dona Natalina, de origem japonesa, que estava passando óleo nos aparelhos. E ela me pediu para lubrificar os aparelhos em que eu fi­zesse a limpeza. Quando acabou a garrafa de óleo, come­cei a passar graxa amarela misturada com graxa branca para motores náuticos, porque demorava mais tempo sem que a chuva levasse embora”, conta.

Um dia, ainda em 2010, Nelson foi até a Praça Flavio Xavier de Toledo para fazer seus exercícios e se depa­rou com alguns dos aparelhos quebrados. “Fui então na Subprefeitura do Ipiranga, solicitar graxa e conserto nos aparelhos quebrados. Para minha surpresa, disseram que não faziam manutenção nos aparelhos. Fiquei muito de­cepcionado. Conheci então o Sr. Djalma, na época com 80 anos, funcionário aposentado de manutenção da fábrica Mercedes Benz. Ele mandou soldar um aparelho quebrado por vândalos e me doou vários rolamentos novos, códigos 6204, 6205, 6206, usados em motores e rotores elétricos. Fiz ali a troca e não parei mais”.

Além da simpatia dos outros moradores e usuários das ATI, Nelson recebeu também a ajuda de algumas pessoas. “A Dona Natalina me doou vários potes de graxa porque eu não tinha recursos para comprar e a minha esposa já esta­va uma fera com os meus gastos. Outra doadora, que vou chamar apenas de Sra. DI, doou mais de 50 rolamentos usados da oficina de manutenção de motores e dutos de refrigeração industrial, com os quais pude consertar mais de 10 praças diferentes em SP, até no andador da Praça na Liberdade. Troquei também rolamentos no andador da Praça Kant, na Chácara Klabin, no Parque da Aclimação e na Praça Santos Dumont, em Ubatuba nas férias”.

Atualmente, Nelson tem um trato com sua esposa: só fazer a manutenção de aparelhos onde ele costuma fazer seus exercícios, ou em praças próximas à residência das clientes que ela atende como esteticista. Ainda assim, faltam recursos para continuar este nobre trabalho. Nel­son aproveitou a entrevista para pedir doações de graxa amarela e rolamentos usados e novos – os códigos de rolamentos mais utilizados nos diversos aparelhos, ge­ralmente das marcas Ziober e Selva, são o 6204 (Roda Giratória), 6205 (Eski e multiuso) e o 6206 (Aparelho Andador). “Já faz 3 meses que eu não recebo nenhuma doação de graxa e estou passando silicone líquido que o Sr. Mauro, da Av. Osvaldo Aranha, doou pra mim. Ele é uma pessoa muito generosa”, completa.

Quando perguntado sobre o que o faz continuar a exe­cutar a manutenção dos aparelhos em praças das mais diversas regiões de São Paulo, e postar diariamente dicas de saúde para pessoas que muitas vezes ele nem conhece, Nelson explica: “Meu objetivo de vida é orientar as pes­soas a sair da depressão através de exercícios físicos, e com isso proporcionar uma vida mais saudável na terceira idade! Banzai! E Saúde para todos!”.

Fonte: Chácara Klabin

Um comentário:

  1. Só fui ver esta matéria agora, dia 01 de outubro de 2020.
    Linda história!! Parabéns ao Sr. Nelson pela dedicação e parabéns as pessoas que o ajudam nesta jornada.
    São exemplos de que como as pessoas podem fazer a diferença na comunidade. De como uma pessoa pode influenciar centenas, milhares de vidas.... Estou a 350 km da capital e quase 4 anos "atrasado" porém deixo aqui meu respeito e admiração pelo Sr. Nelson e os amigos do bem que os ajudam

    ResponderExcluir