segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Intercâmbio na terceira idade: ‘Foi uma descoberta inacreditável’!

Na terceira idade, Ângela Reis fez intercâmbio no Canadá, em três meses de curso de inglês em Vancouver. Ficou em casa de família. Aos 62 anos, ela melhorou seu nível de idioma e se sentiu revigorada com a convivência com os mais jovens na escola.

A ideia de estar numa sala de aula com vários adolescentes provocava em Ângela Reis dúvidas sobre o intercâmbio na terceira idade no Canadá — “achei que fosse ser um saco” —, mas a surpresa veio na intensidade do quanto foi interessante interagir com os alunos mais jovens: “A relação foi maravilhosa”. Aos 62 anos, a psicoterapeuta corporal, que vive no Rio de Janeiro, fez três meses de curso de inglês em Vancouver neste ano. Sentiu alguns estranhamentos, mas voltou em julho encantada.

“Fui muito importante a experiência: com a idade que eu tenho você ousar fazer isso!” Ângela conta que, com o passar dos anos, batia uma certa preguiça de se aventurar em algo tão novo. “Você fica querendo viajar sempre com gente conhecida”, diz. Ela já tinha ido a países da Europa e da América do Sul, mas nunca havia feito intercâmbio.

Mas uma amiga dela havia se mudado para o Canadá, e Ângela queria aprofundar seu conhecimento de inglês. “Tinha muito anos que eu não estudava. A cada vez que viajava sentia falta de mais fluência. Falar inglês sempre facilita”, afirma a psicoterapeuta corporal, que usava o idioma para acompanhar estudos na sua profissão. “Tinha isso como uma meta: voltar a estudar, retomar a língua”, diz a carioca, que decidiu fazer a viagem para estudar pela Canadá Intercâmbio.

A escolha por Vancouver não foi apenas por causa da amiga, ela explica: “É uma cidade do Canadá com clima mais agradável.” Para evitar o inverno, marcou a viagem para maio. O intercâmbio no Canadá, no entanto, mostrou na prática à Ângela por que Vancouver é chamada de Raincouver — não à toa o apelido incorpora a palavra ‘chuva’ em inglês ao nome da cidade. “Peguei chuva e frio em maio.” No início, como boa carioca, ela pensava em ver o tempo melhorar para dar um passeio. “Minha amiga me disse: ‘Se for esperar parar de chover, você não sai nunca’. A primeira coisa que fiz foi comprar um casaco de chuva.”

Casa de família

Ângela ficou dez dias na casa da amiga. Depois, foi para a casa de família. O home stay, com direito a café da manhã e jantar, foi a parte mais desafiadora da viagem. “As famílias com que adolescentes da turma estavam eram mais receptivas. Onde eu fiquei, não. A gente não se encontrava porque tinha horários diferentes. Via só no café da manhã. Eles não tinham disponibilidade, não tinham tempo”, lembra. “Não existia (a troca), e é uma família que faz isso há 10, 12 anos. Mas a convivência que achei que fosse ter não aconteceu.”

A carioca queria manter a dieta, mas não podia cozinhar. “Isso é muito difícil. Eu moro sozinha e cozinho na minha casa. Eles comiam muita fritura.” Também não gostou de não poder lavar a própria roupa. “Detestei a experiência”, afirma Ângela. Ela diz que até tentou trocar de família, mas que, como era alta temporada, a cidade estava cheia e não havia disponibilidade.

Essas questões norteiam a experiência de ficar hospedado em casa de família — o tipo de acomodação mais usado pelos brasileiros — e devem ser acertadas antes da viagem, recomendam os especialistas. “Eu não pensei nesses aspectos, fui impulsiva. Quero fazer, Vancouver todo mundo diz que é legal. Peguei e fui.”

Para ir e voltar da escola, ela pegava ônibus e metrô. “Eles têm um sistema muito bom. A espera pelo ônibus não era de mais de dez minutos. Depois das 22 horas, passava de 40 em 40. Ok, você se organiza para isso.” A rotina tranquila do transporte público chamou atenção de Ângela. “O motorista para porque está no tempo de alongamento dele, e todo mundo espera numa boa, ninguém reclama.”

Curso de inglês no Canadá

Ângela conta que chegou no intermediário básico e, ao longo do curso, chegou à turma de inglês avançado. A carioca elogia a organização e a atenção com os alunos por parte da escola VanWest, onde estudou. “Eles cuidam de tudo, sabem quem está em que situação. Tem um consultor para cada etnia.” Mas não curtiu tudo no programa, segundo ela, muito rígido.

“A gente tinha aulas de writing (escrita) e reading (leitura) pela manhã. De tarde, você tem eletivas. Pode ser listening (compreensão auditiva), por exemplo”, diz a psicoterapeuta. “Mas a escola é muito focada na preparação para os cursos de graduação, de college. Isso dá certo para a maioria das pessoas, para adolescente serve. Mas não para quem tem uma outra necessidade”, pondera. “Eu não vou fazer prova, não vou imigrar, não ia ficar fazendo dissertação quatro vezes por semana”, afirma.

Marotamente, Ângela arrumou uma solução para praticar a língua: “Matava umas aulas e ia para rua conversar em inglês.” Saía com os amigos que fez entre outros alunos acima dos 50 anos: “Eram dois paulistas e dois casais de Montreal”. Ela conta que usou bem o idioma e ainda conheceu Vancouver.

Também visitou arredores e cidades próximas. A escola, como de costume em programas de intercâmbio, oferecia passeios e excursões para os alunos. Ela acabou não fazendo porque preferia saídas com mais conforto. “Mais velha, a gente não quer mais ser mochileira, dividir quarto com quatro. E lá eles tem muito programa com trilha.”

Preferiu, então, fazer os passeios com os amigos. Esteve em Whistler, Capilano, Grouse Mountain e Victoria (“parece um cenário de tão linda, com os jardins da cidade, e tem bons restaurantes”). Provou os vinhos da província de British Columbia, mas gostou mesmo foi das cervejas locais. “Eu adoro cerveja artesanal, provei várias.”

Interação entre gerações

Com os amigos mais jovens da turma, aprendeu sobre costumes e comidas orientais. “Pedia a eles para me ensinarem como comer os pratos. Eles queriam muito saber como era a minha vida no Brasil”, conta. “Os asiáticos, minha nossa, como me tratavam com carinho, com uma cordialidade.”

Na primeira vez no Canadá, aliás, a psicoterapeuta corporal teve como maior estranhamento uma característica positiva. “As pessoas são muito educadas. Eu estou numa tristeza com o Rio. Foi muito interessante sair daqui nesse momento caótico. Nessa falta de educação que a gente vive no Brasil. Foi bom conviver, ver que tem outro lugar diferente.”

A ótima interação entre gerações e a gentileza nos gestos do dia a dia impressionaram a brasileira. “Senti muito essa mudança de perfil. Foi uma descoberta inacreditável”, afirma. “Essa troca que tive lá, enxergar esse mundo novo, me deu uma animada. Foi muito intenso.”

Fonte: Estadão 

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